PENOSIDADE ITINERANTE

Olá!!

Demorei mas aqui estou eu, pronto para inaugurar meu espaço aqui neste blog que tão bem retrata os "pobrema" do nosso dia-a-dia.

Alguns amigos penosos sabem, porém outros não, mas eu, Helô e Rodrigo numa tentativa de amenizar nossa penosidade estamos trabalhando -isso, trabalhando- em festas infantis por toda cidade do Rio de Janeiro. Quando eu digo por toda cidade do Rio de Janeiro compreendam no sentido literal pois nosso trabalho é um verdadeiro intercâmbio por lugares penosos como Santa Cruz, Honório Gurgel, Vila Kennedy e Higienópolis. É uma verdadeira festa de penosidade: crianças em polvorosa, Waldirennes em euforia levando suas crias (dentro e fora da barriga), banhos de mangueira e churrascadas em geral. São lugares e pessoas únicas que nos proporcionam além do trabalho (que é foda, carregar um monte de coisa e aguentar as crianças gritando o tempo todo) muita diversão pois zoamos muito na volta pra casa, lembrando das situações e personagens que tivemos contato durante a festa. Farei um resumo destacando os pontos "altos" das últimas festas pra vocês sentirem um pouco mais o nosso drama laboral.

SANTA CRUZ E HONÓRIO GURGEL

Sim, duas festas em um dia. Como se não bastassem duas festas em um dia elas tinham que acontecer em Santa Cruz e em Honório Gurgel, respectivamente. Lá fomos nós, os penosos, acordar cedo e ir no carro cheio por toda Av. Brasil até chegar num lugar ermo onde se situava o sítio da primeira festa. Fomos recepcionados por uma Walberjane que usava anteninhas que nos levou ao local onde deveríamos armar os brinquedos. O detalhe é que compartilhamos o espaço com patos, galos e cachorros. Até que chegaram as crianças dentro das kombis que cuspiam dúzias a cada viagem. Mas até que foi tudo bem, a festa correu tranquila, desmontamos tudo na hora certa e partimos para o nosso segundo destino: Honório. Eu nunca tinha ido a Honório, logo não fazia idéia de como era o lugar. Esperava um típico bairro suburbano, casas com janelinhas de madeira e simpáticas senhoras sentadas em suas cadeiras de praia no portão de casa. O que encontramos foi uma favela. Tá td bem, uma favela é só uma favela mas aí mandaram nós colocarmos os brinquedos próximos a entrada da rua onde funcionava a "empresa". Pois é, como se não bastasse as crianças totalmente incontroláveis ainda tinha um band mirim brincando no meio delas. O que mais impressionou é que o band mirim era mais educado, comparado aos demais que eram terríveis. Pro inferno faltava pouco, até que ouvi alguém dizendo que uma das meninas que estava brincando tinha sarna. Aí não faltou mais nada... Não posso deixar de citar uma Waldirenne que nos ajudou muito no controle das crianças. Obrigado amiga, nem vou contar que TODOS os seus dentes eram podres.

VILA KENNEDY

Vila Kennedy é um marco. Primeira festa que fizemos sozinhos, logo imaginem a nossa ansiedade (cof) para o evento. E lá foram os penosos, saindo super cedo de casa, pegando novamente a fatídica Avenida Brasil até quase o final para atingir Vila Kennedy. O primeiro contato com um habitante local foi para perguntar o caminho. Super bondosa, a local em questão nos orientou com a maior dedicação nos mandando pegar um túnel. Tipo, ela achou que estava nas imediações do Rebouças? No Joá? Não minha filha, Vila Kennedy não tem túnel. O "túnel" que ela mandou pegarmos era a parte debaixo de um viaduto. Quando todos nos questionávamos o motivo pelo qual ela disse que aquilo era um túnel, nosso psicólogo/pedagogo definiu com as seguintes palavras: "Túnel é a palavra que ela usa para designar coisas das quais ela não conhece o significante."

Algumas ruas depois, dentro da Estrada da Posse, perguntamos a uma "dona" (novamente nosso amigo psicólogo caracterizando os habitantes) e achamos a rua. Beleza, destino encontrado, locais definidos, brinquedos montados e tudo pronto para o que parecia ser uma festa tranquila. Quando me desce a rua um ser que definitivamente foi O CARA da festa. Imaginem uma daquelas crianças africanas que vemos na tv. É, foi triste... Agora imaginem meu choque ao ver um molequinho de uns 5 anos correndo com uma cueca vermelha duas vezes maior que ele, todo sujo de terra e pedindo pra subir no brinquedo. Me contive e botei ele em cima da cama elástica já imaginando o que viria pela frente quando vem Helô falar comigo e vê o dito cujo quicando na cama elástica, berrando loucamente... AHAhAhAhAhAhAhAhAhAhAhaHAHAHAHAHAHAHhA. Cara, agora é até engraçado mas a Heloísa ficou visivelmente chocada com a cena. Tanto que ela ficou sem ação, estupefata, petrificada... Mas até que o tal era bonzinho e nós nos divertimos muito com as coisas que ele aprontava, sempre tinha um gritando o nome dele. HAAHahAHhAhAAHhAAHA. Ele foi definitivamente O CARA! Choques iniciais à parte, começou a surgir mais e mais crianças, todas como sempre empolgadíssimas nos dando trabalho, nos fazendo repetir as mesmas instruções milhares de vezes. Mais pro final da festa, a situação já estava tranquila e ficamos conversando com algumas das crianças que fizeram perguntas como por exemplo: "O que é alma?" "O que é 'acumular'?" Algumas delas não sabiam o significado de palavras simples, foi realmente difícil perceber isso, desconcertante mesmo. Mas o diálogo que mais rendeu comentários merece ser descrito com fidelidade. Aqui vai:

HELÔ: Ah, sua boba.
MENININHA: Boba é a sua avó!
HELÔ: Minha avó já morreu hein, ela vai vir puxar seu pé!
TODAS AS OUTRAS CRIANÇAS: Morreu?!? Quem matou?? Pegaram sua avó com bandido???

Cara, olha a realidade que essas crianças vivem... Bizarro... Aí Helô explicou que a avó dela morreu pq estava doente e tal, ao passo que as crianças comecaraçam a cogitar as hipóteses de doença, como derrame. Quando acabou a festa ainda tinha muita criança por lá que ficaram infernizando enquanto desmontávamos os brinquedos, metendo a mão, atrapalhando... Mas conseguimos sair de lá ilesos, mesmo depois de Rodrigo ter achado uma manga chupada embaixo de um dos brinquedos (eca!) e voltamos no carro rindo muito de todas essas personalidades que tivemos contato.

Isso foi apenas um breve relato de nossas experiências no mundo infantil mais recentes, se vocês gostarem passaremos a publicar todas pois histórias não vão faltar. Cara, se não fosse por estarmos juntos eu não toparia. Agora eu entendo pq a Xuxa beliscava criança e justifico o comportamendo do palhaço Krusty.

Recado importante: USEM CAMISINHA!!!

By: Leo